terça-feira, 30 de outubro de 2007

Acima de tudo...liberdade.

„ ... descobri que... precisava travar uma batalha com um determinado fantasma. E o fantasma era uma mulher, e quando cheguei a conhece-la melhor, passei a chama-la pelo nome da heroína de um famoso poema, O anjo da casa... Ela era intensamente simpática. Maravilhosamente encantadora. Totalmente abnegada. Ela se distinguia nas difíceis tarefas da vida em família. Se havia galinha, ela ficava com o pé, se havia uma corrente de ar, sentava-se bem ali. Em suma, sua constituicao era tal, que ela nunca tinha um pensamento ou desejo próprio, preferindo antes apoiar os pensamentos e desejos dos outros. Acima de tudo, ela era, é desnecessário dizer, pura... E quando me punha a escrever, deparava-me com ela logo nas minhas primeiras palavras. A sombra de suas asas espalhava-se sobre a minha página. Eu ouvia o farfalhar de sua saia no quarto... Ela se aproximava furtivamente pelas minhas costas e sussurrava... Seja simpática, seja delicada, faca elogios, engane, lance mao de todas as artes e ardis do seu sexo. Nunca permita que alguém pense que voce tem um pensamento próprio. Sobretudo, seja pura. E agia como se estivesse guiando a minha caneta. Relato agora a única acao que me levou a ter algum apreco por mim mesma... Voltei-me para ela e a agarrei pela garganta. Apertei com toda a minha forca, até matá-la. Minha defesa, caso fosse levada a um tribunal, seria a de que agi em defesa própria. Se eu nao a matasse, ela me mataria.“


Virginia Woolf, Professions for Women.

Um comentário:

Unknown disse...

espetacular!!!! vc me surpreende fran e eu a admiro cada dia mais!